Sustentabilidade, Upcycling e Consumo Responsável

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Escrito por Alessandra Thayssa

Fonte: institutoriomoda.blogspot.com.br

Oi, oi, oi gente! Tudo bem? Hoje vamos conversar um pouco sobre atitudes sustentáveis na moda, assunto de utilidade pública! Aliás, sabia que existe diferença entre "ser sustentável" e "sustentabilidade"? Pois é! Mas vamos lá explicar: ser sustentável é utilizar os recursos naturais de maneira a não comprometer a disponibilidade desses recursos para as futuras gerações. Sustentabilidade são ações e atitudes que tem como objetivo prover as necessidades humanas de forma ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável. Mas ter ações de sustentabilidade não é só poupar água, energia, separar o lixo ou não jogar no ralo o óleo de cozinha, e nem é algo só de responsabilidade do governo e das empresas. É um dever de todos nós e achar que não temos nada a ver com isso ou pensar que você é só uma gota no oceano e, portanto não fazer a sua parte, é algo antiquado, irresponsável e pessimista. 
Jovens inglesas que ao comprar peças na rede irlandesa Primark, encontraram etiquetas denunciando as condições de trabalho em que as peças foram produzidas em frases como "forçado a trabalhar durante horas exaustivas" e "condições de trabalho degradantes em fábricas de suor" / Fonte: www.occupy.com

Já é de conhecimento geral que a indústria da moda é a segunda que mais polui o planeta, perdendo apenas para a indústria do petróleo e não são poucas as marcas nacionais e internacionais, como Zara, Forever 21, Le Lis Blanc, Renner e Gregory, só para citar algumas, que foram denunciadas por utilizar mão de obra escrava na produção das roupas, tudo pela busca de um maior lucro. Ok, isso é uma questão que diz respeito às empresas de moda e políticas de trabalho, mas nós também damos a nossa parcela de contribuição a esse sistema exploratório e opressor com nossas demandas crescentes por roupas novas a cada estação e descarte, ambos de formas irrefletidas.
Nos últimos 10 anos, o acesso às informações de moda nos fez desejar roupas e acessórios para serem usados agora, com preços (ou parcelamentos) acessíveis. A indústria prontamente nos entregou o que tanto desejávamos, mas o problema é que ficamos muito mimados e consumistas. O grande incômodo do desejo de consumo é que, se você não tem uma certa maturidade emocional, você deseja aquele algo ardentemente, fica frustrado, infeliz, e só melhora quando finalmente adquire o objeto. Sendo que essa falsa sensação de felicidade só dura até você começar a desejar outra coisa, aí vira aquele ciclo nada saudável e interminável de nunca estar satisfeito. Trazendo isso para as compras de moda, a gente entra em um consumismo excessivo, porque afinal é lindo, a gente acha que precisa, o preço tá óóótimo... e se não usar ou não gostar, é só enterrar bem fundo no guarda roupa, ou dar para doação. A gente não pensa no quanto o nosso consumo desenfreado vai custar ao planeta e à humanidade, pois somos especialistas em justificar nossos comportamentos nocivos com "boas intenções".
Mas nunca é tarde para rever conceitos e mudar atitudes não é? Pois vamos a algumas sugestões que promovem a sustentabilidade no consumo e na moda:

Lixo Têxtil / Fonte: www.prinup.com.br

Use a criatividade
Olhe menos para vitrines e mais para o seu próprio guarda roupa. Procure combinar suas peças de diferentes maneiras das que você sempre usa, lance sobre as suas roupas um novo olhar, valorize o que você já tem e você vai descobrir que estar bem vestida nada tem a ver com roupas novas. Você exercita a sua criatividade para criar looks novos com o que já tem no armário, faz render o dinheiro que já gastou e evita contribuir com o lixo têxtil que é não biodegradável. Sabia que das roupas novinhas que jogamos fora, somente 10% delas são reaproveitadas? Os outros 90% vão para lixões e demoram até 200 anos para se decomporem no ambiente, além de liberarem gases bem perigosos no ar.

Conheça, acompanhe e fiscalize
Procure saber a procedência das suas roupas, pesquise a marca, especialmente as que terceirizam a confecção das peças, quais as suas políticas de trabalho, matérias primas e responsabilidade sócio-ambiental. Informe-se na loja, envie email para a marca e pergunte como funcionam as coisas a quem realmente entende do processo. Você pode acompanhar as principais varejistas do Brasil através do aplicativo Moda Livre, que mostra medidas que as marcas têm tomado para evitar que suas roupas sejam produzidas por mão de obra escrava. Conheça 14 marcas brasileiras sustentáveis.

Prefira comprar do pequeno e com qualidade
Marcas menores, da sua cidade, independentes, onde na maioria das vezes os donos é quem cuidam de todo o processo, da matéria prima à embalagem. Essa atitude, faz com que você incentive a economia da sua comunidade e o dinheiro investido, seja pago a quem realmente produz e não para quem já tem milhões na conta bancária. Quanto menos gente envolvida no processo de uma marca, mais informações você obtém sobre salários, condições de trabalho e impactos na comunidade. Quanto maior a marca, mais difícil é saber o real funcionamento das coisas. Já sobre qualidade, é algo que sempre vai ser mais importante do que quantidade. Bons tecidos e materiais duram mais, tem melhor custo benefício e, geralmente, são à prova de tendências, tendo uma vida útil bem mais longa.

Questione se a compra supre as demandas pessoais e sócio-ambientais
Eu preciso realmente disso? Essa peça valoriza meus atributos, como silhueta e cor da pele? Dá certo com pelo menos 3 peças que já tenho no guarda roupa? É barato, mas tem qualidade?  A produção é própria ou é terceirizada? A produção vem do sofrimento de alguém ou de um animal? O produto passou por processo super agressivo ao meio ambiente? Os funcionários são remunerados de forma justa? Quão próximo é o contato entre funcionário / empregador? 

Look da marca MIG Jeans, criada por três estudantes de produção de moda em 2013, que investe no processo de upcycling, produzindo jeans com técnicas de reutilização de tecidos / Fonte: http://theblax.com.br/mig-jeans/

Invista no Upcycling
Você que é designer de moda, que tal exercitar a sua criatividade de forma sustentável com o upcycling? Esse processo nada mais é do que reutilizar objetos que seriam descartados, transformando-os novamente em novos. A diferença do upcycling para a reciclagem é que na reciclagem o que é velho se transforma em novo, mas ainda são utilizados processos químicos. Já no upcycling, o material é reutilizado no seu estado original, sem gastar recursos como água e energia. Na moda, as roupas de segunda mão e sobras de tecidos que seriam descartadas, é que viram matérias primas para incríveis e sofisticadas criações, sendo ainda mais ecológico do que a própria reciclagem em si. O conceito de upcycling já tem ganhado espaço no Brasil e os estilistas tem encontrado nesse método uma boa oportunidade de crescimento econômico, sem falar na economia de matéria prima. Dos países da Europa, a Alemanha é pioneira na reutilização de materiais descartados e um grande celeiro de pessoas  criativas que aliam originalidade com sustentabilidade. Para quem acha que essa alternativa é novidade, fique sabendo que no Japão eles utilizam técnicas de upcycling mais de 100 anos!

É bom saber que alternativas existem, para quem consome e para quem produz e ambas vem de um denominador comum: a criatividade. Desejo não é uma ordem, e a gente pode até ficar frustrado no momento, mas essa sensação passa e a gente sobrevive e descobre que não é o fim do mundo. Mais vale deixar de depender de produtos e de ser controlado por publicidades, e sentir orgulho de si mesmo por ter conseguido superar o desafio, sem precisar gastar e poluir o ambiente, criando métodos benéficos que impactam não só o individual, mas também o coletivo! Espero que você reflita sobre essas questões, para consumir melhor e criar melhor! Beijos e até o próximo post!

 

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