HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA: ANOS 30 - CRISE, GLAMOUR E CANGAÇO

09:30:00

Escrito por Alessandra Poleti

Olá pessoas, como estão? Estava com saudade de postar por aqui, como Ale Thayssa já disse por aqui, me mudei e estava (estou) me organizando por aqui (SP) maaas nosso blog não pode parar né, afinal, trabalho é trabalho e responsabilidade é responsabilidade.
Depois de vermos aqui no blog anteriormente que em 1920 houve toda a questão da modernidade e mudança por parte do guarda-roupa feminino da época e tudo o que era usado na Belle Époque passou a ser esquecido. Entretanto, os “anos loucos” alcançaram uma terrível depressão: a crise de 1929.
Os anos 30 começam após a grande queda da bolsa de Nova York em 1929. A consequência disso fez com que muitas pessoas ficassem desempregada e a moda foi obrigada abaixar seus preços e utilizar matérias-primas mais baratas. Mesmo assim, o EUA começou a criar produção em massa com tamanhos padronizados fazendo assim crescer o comércio por atacado e começamos a ver o início da produção em massa das roupas, que eram vendidas nas boutiques, onde os estilistas vendiam criações já prontas, mas não chegava no nível de um prêt-à-porter. Era apenas o início.

Caracterizada por uma mudança nos tecidos utilizados, na década de 30 passa a ser usados tecidos mais econômicos como algodão, musseline, organza e cambraia foram utilizados, inclusive, para os vestidos de noite. Não houve grandes revoluções nas formas ou comprimentos das roupas, como ocorreu em 20, mas uma adaptação por parte de estilistas e costureiros para continuarem fazendo seu trabalho a um custo de produção baixo e vendendo por um preço mais em conta, inclui-se nesta lista a Chanel.
Ainda em busca de sua independência , a mulher de 30’ começa a ter preocupação com a saúde e aumenta a prática de esportes. Além do padrão de beleza exigir que as mulheres deveriam ser magras e ter pele bronzeada.


O visual dos anos 20 começa a ficar de lado e os estilistas começaram a implantar roupas mais suaves que acentuadas para as formas femininas, dando um toque de elegância refinada, sem muita ousadia. A sensualidade estava nos quadris e seios fartos, não mais achatados como na década anterior, mas sempre valorizando a naturalidade.Surgiram também cintos que ficavam em torno da cintura e as saias ficaram levemente rodadas.
Os vestidos também  ficaram um pouco mais longos e retos e geralmente recebiam uma pequena capa ou bolero por cima. 


A silhueta feminina começou a ser redescoberta. Os cabelos estavam começando a crescer e as saias também. Nesse período da história, as saias possuíam um comprimento para determinado horário. De dia, elas eram mais longas e à noite, elas poderiam ser 5 cm mais curtas.  


Vemos uma grande revolução no modo de se vestir nos vestidos de noite que ganham decotes enviesados e bem profundos nas costas marcaram os anos 30, que elegeram as costas femininas como o novo foco de atenção e pode-se dizer que foi uma inspiração para as roupas de banho, afinal, na década de 1930, as pessoas já começavam a se importar bastante com o corpo e com a saúde, preferindo esportes ao ar livre e valorizando um bronzeado.


Uma das peças que surgiu com a popularização do esporte foi o short, que as mulheres poderiam usar ao andar de bicicleta
Os shorts começaram a ser aceitos pelo público feminino, trajes de banho começaram a ficar menores. Os banhos de sol estavam ficando cada vez mais fortes e os óculos de sol com formato tartaruga era um acessório desejado.

O cinema hollywoodiano foi o influenciador da moda e padrões de beleza naquela época, sendo grande referencial de disseminação dos novos costumes e tendências. Além de Greta Garbo, Hollywood tinha Katharine Hepburn e Marlene Dietrich, além de estilistas, como Edith Head e Gilbert Adrian, que influenciaram o estilo de milhares de pessoas. Gabrielle Chanel continuava sendo sucesso, assim como Madeleine Vionnet e Jeanne Lanvin.
Apesar da grande depressão dos EUA, foi na década de 30 que o glamour de Hollywood e o cinema falado começam a ganhar destaques com os grande estúdios. Alguns dos filmes que marcam a década são: O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939), Tempos Modernos (Charles Chaplin, 1936), E o Vento Levou (Victor Flemin, 1939)  e os desenhos Walt Disney começam a se propagar. Filmes de gângsters também ganharam destaque nessa época.
Sendo Hollywood a grande influência para a época, os produtores já tinham como um importante foco o figurino das personagens. 

E o Vento Levou (Victor Flemin, 1939)

Mesmo contratando criadores parisienses para desenhar seus figurinos, Hollywood investiu, e muito, em seus próprios estilistas para formar seu próprio nicho de estilo. Nesse meio, podemos destacar Edith Head (que foi a inspiração para a personagem Edna Moda, d’Os Incríveis!), que vestiu atrizes como Audrey Hepburn, Grace Kelly e Elizabeth Taylor e faturou 8 Oscar de Melhor Figurino. Rapidamente a indústria cinematográfica e a moda acharam um meio de faturar um bom dinheiro às custas desse fascínio popular pelo estilo das estrelas de Hollywood. Nasce então o Glamour em plena crise, algo semelhante não? (hahaha).
Elsa Schiaparelli, estilista italiana engajada no movimento surrealista. Schiaparelli utilizou ombreiras em suas criações tempos antes de entrar para o “movimento” Hollywoodiano, e entrou apenas com a utilização delas em uma atriz hollywoodiana e então que realmente conquistaram as ruas.


Schiaparelli é um nome importantíssimo quando falamos da moda do século XX. Colaborando com Salvador Dalí e Jean Cocteau, ela inseriu suas criações em um surrealismo que era abordado superficialmente pelos demais estilistas. Elsa sofreu um impacto profundo do movimento, mas sem modificar silhuetas, apenas detalhes. Vestidos com estampas de lagostas, luvas que vinham com unhas pintadas, bolsas que tocavam melodias quando abertas. Utilizando a técnica de trompe l’oeil (ilusão de ótica), Elsa transformou a moda em algo divertido, e a silhueta de ombros largos e cintura fina que criou perdurou da década de 1930 até 1947, com a aparição do New Look de Dior.

Algumas características das roupas também eram evidentes: os padrões das estampas eram geralmente pequenos e os florais eram os mais populares; as peles eram usadas para complementar as roupas, tanto de dia quanto de noite, sendo que, de noite, elas eram mais grossas; os conjuntos de alfaiataria clássico, especialidades dos estilistas britânicos, eram os preferidos para a cidade e para o campo, feitos de lã ou tweed.
Já nos calçados, Salvatore Ferragamo revolucionou o mercado ao utilizar materiais alternativos para fabricação de sapatos. Ele usou cortiça e celofane para desenvolver alguns calçados na época, além de materiais sintéticos e mais baratos.


Ferragamo criou a palmilha compensada e inventou novas formas, belas e anatômicas, sempre pensando no conforto. O salto anabela, uma de suas criações, foi projetado, em 1938, levando em conta sua funcionalidade e estética.

CABELO E MAQUIAGEM

Nos anos 30 o cabelo começa a crescer, mas ainda continua um pouco curto, divididos de lado ou no meio, porém, mais ondulados.

A maquiagem começou a ser mais leve e a principal característica eram as sobrancelhas arqueadas e finas e uma sombra mais clara no côncavo para deixar o olhar mais sedutor. O blush começou a ser mais utilizado para dar um ar de saúde para as bochechas.

MODA MASCULINA

Na moda masculina, a aparência de um “ar esnobe” começou nos anos 30, assim como o progresso das roupas em direção à informalidade. Os ombros dos paletós deveriam ser bem largos e quadrados. As calças eram largas ou retas. O terno com fechamento duplo se popularizou e é precursor do terno moderno. Os tecidos eram de cor escura ou com listras e xadrezes. No verão se usava blazer. O look masculino tinha uma aparência mista de gangster e homem de negócios.


Mais uma vez, o cinema foi o grande responsável pela disseminação dos novos looks. A mudança mais significativa da moda masculina da década, ocorreu devido ao filme “Aconteceu Naquela Noite”, estrelado por Clark Gable. Em uma cena, ele tira a camisa e não há camiseta por baixo. Camisetas até então, eram roupas de baixo e a ousadia da ausência da peça no figurino do personagem fez a venda de camisetas cair drasticamente influenciando o hábito masculino de usar uma camiseta por baixo da camisa. O chapéu da época era o modelo fedora, usado propositalmente caído sobre os olhos ou apontado para baixo.


No final dos anos 30,mais exato em 1939, a Segunda Guerra Mundial eclode. Já no final da década é possível vermos roupas inspiradas em uniformes militares e algumas funcionalidades adaptadas para o dia a dia, algumas peças eram preparadas para dias difíceis. É o caso de uma pequena fenda lateral nas saias, pensadas para facilitar o uso de bicicletas. A década de 1940 foi uma época difícil para a moda, principalmente francesa – pelo menos até o final da guerra, em 1945.  

MAS E NO BRASIL?


No Brasil a década de 30 é marcada pela Revolução de 30, encabeçada por Getúlio Vargas e pela Revolução Constitucionalista em São Paulo de 9 de julho. A cantora Carmen Miranda, também dá início a sua carreira nessa época, gravando Eu fiz tudo para você gostar de mim (Taí) de Joubert de Carvalho, sendo um dos maiores nomes e referências para nós dessa década no Brasil.


As referências de tendências eram conhecidas através de revistas de moda feminina, vindas da França. Um fato importante na moda é a abertura para as primeiras adaptações feitas por brasileiros, preocupados principalmente em adaptar as roupas ao clima. Em São Paulo, o trabalho de Rosa Libman, com sua loja Madame Rosita, foi bastante reconhecido, pois era sempre a primeira a lançar toda e qualquer novidade que surgia na Europa nos desfiles que apresentava por aqui.


O prestígio era tanto que a uruguaia Rosa, ou Madame Rosita, como também era conhecida, foi considerada a “primeira dama” da Alta Costura Brasileira e conquistou grandes prêmios.

A INFLUÊNCIA ESTÉTICA DE LAMPIÃO

Sua influência no Cangaço extrapolou tempo, fronteiras, passou a ser sinônimo de mulher forte e virou uma marca nordestina, igual ao companheiro Lampião. Sim, Maria Bonita. Maria Bonita e Lampião são referências da década de 30 também. Ambos, são mitos e mitos não morrem.  Maria Bonita ditou moda, inspirando estilistas de épocas variadas.


Maria bonita era vaidosa e charmosa, ela soube ser um ponto fora da curva e isso nos anos 30 e em plenas caatingas nordestinas é no mínimo um espanto. Não é à toa que ficou conhecida como Maria Bonita. Para sempre bela!
Para muitos, a simples menção ao nome de Lampião fazia tremer o cabra mais macho do Nordeste. Virgulino Ferreira da Silva, seu nome de batismo, aterrorizou o sertão, entre 1916 e 1938, com seu bando que contava 200 homens. Nos sete Estados da Federação onde a lei parecia ausente e a polícia, chamada de Volante, cometia excessos, Lampião e sua gangue. Justificavam seus assassinatos,estrangulamentos, estupros e assaltos com supostas bandeiras sociais e, assim, conseguiam angariar alguma simpatia da população pobre. Mas, quando não estava praticando crimes, o cangaceiro se atracava com agulhas e linhas para costurar e bordar, lindamente, roupas, revestimentos para cantil, cinturões, bornais (espécie de bolsa) e os lenços que usava ao estilo Jacques Leclair, o protagonista costureiro da novela global “Ti-ti-ti”. Seu sanguinolento bando exibia uniformes bordados com flores, estrelas e símbolos místicos. Embora cause estranheza, este apuro estético tinha uma finalidade: servia para despertar admiração entre a população e, também, como patente hierárquica do bando. Lampião acreditava ainda que alguns símbolos blindavam seus homens contra maus espíritos.

O lado excêntrico e quase marqueteiro do famoso bandoleiro emerge pelas mãos de uma das maiores autoridades brasileiras em cangaceiros, o historiador Frederico Pernambucano de Mello, “o mestre quando o assunto é cangaço”, como dizia o antropólogo Gilberto Freyre. Mello acaba de lançar o livro “Estrelas de Couro – A Estética do Cangaço” (Escrituras, 258 págs.), no qual mostra que, ao impor um estilo próprio de vestuário, Lampião incutia os valores do cangaço aos homens do seu bando e estabelecia a diferença entre a sua tropa e os “outros.” Lampião, aliás, odiava ser confundido com cangaceiros comuns. A força da roupagem luxuosa que ele criava, incluía metais e até ouro, além de moedas e espelhinhos, chegou a influenciar as vestimentas dos policiais. Antes de costurar, ele pegava um papel pardo e desenhava, depois levava o papel para a máquina Singer e cobria o tecido. “Ele não era apenas o executor do bordado, era também o estilista”, afirma Mello.


O Rei do Cangaço morreu aos 40 anos, em 1938, junto com a fiel companheira, Maria Bonita – que, igualmente, andava coberta de roupas, chapéus, cintos e bolsas bordadíssimas. O casal e nove homens do bando foram decapitados e as cabeças expostas como troféus pela polícia nas escadarias da igreja de Piranhas, em Alagoas. Ali, foram fotografadas ao lado de objetos preciosos do grupo, como espingardas e cartucheiras, além de outras armas de Lampião: duas máquinas de costura Singer, o sonho de todas a donas de casa da época. Se tivesse escolhido a profissão de costureiro, Lampião (até hoje cons­tantemente revisitado pela indústria fashion) certamente teria tido uma carreira brilhante.



Como aparece hoje? 

Em cardigãs, calças de corte reto e impecável, casacos elegantes, shorts de cintura alta e, claro, em vestidos de decote poderoso nas costas e a fendas nas saias retas/ lápis.


E hoje, inspira? 

Milla Jovovich posa com a filha de oito anos, Ever Gabo Jovovich-Anderson, foram fotografadas por Ellen Von Unwerth encarnando imigrantes que viajam para Nova Iorque durante a Grande Depressão dos anos 30. Apesar de serem imigrantes, Milla Jovovich e a filha usam peças retrôs de nomes como Prada, Chanel e Gucci, entre outros.


Nas passarelas e nas ruas também vemos inspiraçãoes:
 

                                                                             Jean Paul Gaultier - Inverno 2010

Por hoje é só rsrs, espero que tenham gostado e aprendido ou relembrado sobre esta década, de crise, glamour e cangaço, afinal pesquisando e escrevendo também aprendemos. Comente aqui embaixo o que acharam e/ou sobre o que gostariam de ver por aqui e nos siga nas redes sociais aqui ao lado. Também estou sempre no meu blog individual, passa por lá ;)

Bjs e até breve!

@alepoleti


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