HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA: ERA VITORIANA

09:30:00

Escrito por Alessandra Poleti

  
Dando continuidade e na sequência, a história da indumentária de hoje trata-se do período vitoriano do Reino Unido reinado pela rainha Vitória, em meados do século XIX, de junho de 1837 a janeiro de 1901.
Foi um período longo de prosperidade e paz para o povo britânico, com os lucros adquiridos a partir da expansão do Império Britânico no exterior, bem como o auge e consolidação da Revolução Industrial e o surgimento de novas invenções. Isso permitiu que uma grande e educada classe média se desenvolvesse.
Alguns estudiosos poderiam estender o início do período à época da aprovação do Ato de Reforma de 1832, como a marca do verdadeiro início de uma nova era cultural. A era vitoriana foi precedida pela era da regência ou período georgiano e antecedeu o período Eduardiano. A segunda metade da era vitoriana coincidiu com a primeira parte da Belle Époque, ocorrido principalmente na Europa continental.
Em 20 de junho de 1837, com apenas 18 anos, Vitória ascendia ao trono de Inglaterra por morte do seu tio Guilherme IV, que não deixara descendência, dando início ao mais longo reinado da história da Inglaterra e um dos mais famosos, que inclusivamente deu nome a uma era britânica, a Vitoriana.

Vitória em 1842

O reinado da rainha Vitória é marcado pela instalação moral e puritanismo, ela era uma figura solene. Em 1840, casou com seu primo Albert, que mais tarde se tornou o Príncipe Consorte. Esta época é tida como o apogeu das atitudes vitorianas, período pudico com um código moral estrito. Isto dura, aproximadamente, até 1890, quando o espirituoso estilo de vida “festeiro e expansivo” do príncipe de Gales, Edward, ecoava na sociedade da época.
O início do período vitoriano (1837- 1860) é marcado pelo extremo recato das mulheres, que tinham seus movimentos restritos pelas roupas pesadas, mangas coladas e crinolina.


A aparência das damas era de vulnerabilidade, as roupas eram desenhadas para fazerem as mulheres parecerem fracas e impotente, como de fato elas eram. As cores eram claras. O espartilho, que fazia mal à coluna e deformava, inclusive os órgãos internos, as debilitava ainda mais, impedindo-as de respirar profundamente. Além de elegante, o espartilho era considerado uma necessidade médica à constituição feminina, usado, inclusive, em versões juvenis a partir dos três ou quatro anos.  


Os cabelos eram cacheados, o ideal de beleza do início da era vitoriana exigia às mulheres uma constituição pequena e esguia, olhos grandes e escuros, boca pequenina e ombros caídos. A mulher deveria ser algo entre as crianças e os anjos: frágeis, tímidas, inocentes e sensíveis. A fraqueza e a inanidade eram consideradas qualidades desejáveis em uma mulher, era elegante ser pálida e desmaiar facilmente. “Saúde de ferro” e vigor eram características “vulgares das classes baixas”, reservadas às criadas e operárias.
Quando subiu ao trono, Vitória era uma estranha para os seus súbditos, mas à sua morte tinha construído uma reputação e respeito que extravasava as fronteiras do mundo britânico até hoje. De início, Vitória foi guiada, política e socialmente, pelo Primeiro Ministro Whig, William Lamb (1834, 1835-41), o 2° visconde de Melbourne, que manteve sobre ela grande influência até se casar com o seu primo Alberto, Príncipe de Saxe-Coburgo-Gotha, em 10 de maio de 1840. O casamento modificou completamente a sua vida, pois lhe trouxe mais alegria de viver, apesar de durar apenas até 1861.
Em 1861 morre o príncipe Albert e a rainha mergulha em profunda tristeza, não tirando o luto até o fim de sua vida (1901).


A morte do príncipe Albert marca o início da segunda fase da era vitoriana. As roupas e as mulheres começam a mudar, os decotes sobem e as cores escurecem. A moda vitoriana do luto extremo e elaborado vestiu de preto britânicos e americanos por bastante tempo e contribuiu para tornar esta cor mais aceita e digna para as mulheres. Mesmo as crianças usavam o preto por um ano após a morte de um parente próximo. Uma viúva mantinha o luto por dois anos, podendo optar – como a rainha Vitória – por usá-lo permanentemente.
No final da era Vitoriana as saias já não são enormes, tornando-se mais justas. Em 1901 Eduardo VII se torna rei e já estamos na Belle Époque (1890 – 1914).

VESTIDO DE NOIVA

A Rainha Vitória foi a primeira nobre a se casar por amor e escolheu o vestido e véu brancos, tendo a cabeça adornada por flores de laranjeiras e sem coroa.

Casamento real / Vestido da Rainha em Museu Britânico

A história de soberania do seu amor correu as cortes europeias e todas queriam imitá-la, pelo menos no uso do branco e é por isso, que o branco foi instituído como a cor da noiva. Foi também a Rainha Vitória que usou pela primeira vez uma das música mais tocadas em cerimônias de casamento é a marcha nupcial de Felix Mendelssohn, para a entrada da noiva. A partir desse momento a marcha nupcial de Mendelssohn, que foi composta para uma apresentação teatral, tornou-se a principal música utilizada nas cerimônias de casamento no mundo até hoje. De início, os vestidos das noivas eram de cores variadas, contanto que os vestidos fossem luxuosos, até porque o casamento era visto como um arranjo comercial e o vestido da noiva servia justamente para mostrar à sociedade que as famílias tinham posses.
Vestidos de noivas da época

Então podemos dizer que foi a Rainha Vitória que inaugurou o visual de noiva que temos até hoje, ao se casar de branco. Também acrescentou ao seu traje nupcial um véu – detalhe, na época, proibido para rainhas, que para provarem suas identidade e soberania, nunca deveriam cobrir o rosto. Com a chegada da burguesia, o vestido branco ganhou novo significado: o da virgindade. Foi então com o casamento da Rainha Vitória, em 1840, que se divulgou o uso do vestido branco para as noivas.

BICICLETA PARA MULHERES

Em 1885, o engenheiro J.K. Starley inventou as ‘bicicletas de segurança’, muito parecidas com as bicicletas de duas rodas que vemos hoje. Antes disso, as pessoas (principalmente os homens), tinham que montar em uma bicicleta ‘comum’ com a sua gigantesca roda dianteira. As bicicletas de Stanley para mulheres foram lançadas em 1889, e abriram o esporte para mulheres como nunca antes. Produzida em massa, as bicicletas de segurança já eram moda na década de 1890. Os conservadores da época, no entanto, ficaram escandalizados com a visão das mulheres mostrando seus tornozelos.
A Era Vitoriana foi marcada com a obsessão do culto à vida doméstica e graves restrições sobre as mulheres. Essas restrições tomavam muitas formas, incluindo os costumes sociais que muitas vezes exigiam que as mulheres fossem acompanhadas por homens quando saíssem de casa, e a falta de representação nas esferas políticas. 
 
 

A bicicleta trouxe mudanças radicais para cada uma dessas forças opressivas. No início, as mulheres usavam saias longas do seu dia a dia, mas isso muitas vezes atrapalhava ao pedalar. Um vestuário especial para ciclismo começou a ser introduzido, que incluía uma polêmica saia “curta” para a época, as bloomers, que eram calças largas usadas por baixo de saias até o joelho. Essa mudança radical não só melhorou a mobilidade, mas também permitiam às mulheres demonstrarem sua força física em um local público. Havia forte resistência à essas mudanças na moda, que eram atacados em jornais como uma ofensa à feminilidade e decência.

MODA MASCULINA

O homem da era Vitoriana era muito formal e cavalheiro. Vestia casaco, colete e o chapéu certo. A única exceção eram os trabalhadores. Andar pelas ruas mostrando as mangas da camisa era como sair de cueca. Sempre usavam uma variedade de trajes e casacos usados em atividades específicas. Cada momento tinha a sua roupa certa, desde o baile até uma caminhada pelas névoas de Londres.


O homem bem vestido usava roupas escuras feitas sob medida. Um relógio de bolso, um anel, os “studs” (botões das camisas) e abotoaduras eram as únicas joias permitidas.

E NOS DIAS DE HOJE, INSPIRA?

A Era Vitoriana tem sido inspiração constante e não é raro encontrarmos nas roupas de agora traços da moda daquele período. Nas passarelas, coleções, editoriais de moda ou em looks de fashionistas, há muitas alusões ao passado, especialmente à época do reinado da rainha Vitória, que trazia no vestuário, um estilo repleta de volumes, forma balão, mangas fofas, muitos babados, rendas e gola alta. Além, é claro, das tonalidades escuras e a clássica sobriedade do preto evocando um romantismo obscuro do final da era vitoriana.
Entre as tendências mais marcantes desta década, está a de revisitar estilos históricos trazendo elementos marcantes destes períodos para a moda contemporânea.

A Erdem já apresentou nas passarelas, vestidos super delicados com babados e estampas vibrante. As cores e o corte das roupas têm um toque romântico e antigo.

O designer Erdem Moralioglu, frente à marca Erdem, além de já ter feito desfiles com inspiração vitoriana, vem com apostas ainda mais delicadas explorando materiais vaporosos, transparências e sobreposições clássicas da moda vitoriana para verão 2017, olha a tendência aí.

O designer Giles Deacon propôs uma coleção teatral e excêntrica para a temporada de inverno 2016. A influência vitoriana surge nos babados nas mangas e golas e nos vestidos volumosos. Está aí a prova de que gótico e romântico podem se mesclar!

A Valentino apresentou uma coleção conservadora e sexy ao mesmo tempo, com vestidos riquíssimos em detalhes, como rendas, transparências, bordados. Simplesmente de tirar o fôlego!

Os looks apresentados pela Givenchy combinaram tecidos mais pesados, como veludo e jacquard, com uma silhueta estruturada bem ao estilo vitoriano. Dá vontade de se teletransportar para o século XIX!

Editorial de moda clicado pelo fotógrafo Michael Roberts para a edição de maio/2009 da revista Vanity com a atriz Emily Blunt, do filme: A jovem Rainha Vitória.
 

Estilista goiano apresenta 21 vestidos de noiva com traços da realeza. Victoria Collection – A exuberância palaciana da Era Vitoriana foi elemento de inspiração do estilista goiano Fernando Peixoto para sua coleção de vestidos de noivas.

Dica de filme, claro que só poderia ser:
Tem no Netflix ;)

E então, o que acharam de conhecer um pouco mais da indumentária da Era Vitoriana?
Nos sigam nas redes sociais aqui ao lado e fiquem ligados aqui que toda semana temos história da indumentária e se você ainda não viu as anteriores, veja!

Beijos e até terça,
@alepoleti


Fontes de pesquisa:

http://modahistorica.blogspot.com.br
 

You Might Also Like

0 comentários